quarta-feira, janeiro 10, 2007

BOA SAÚDE - PRIMEIRAS CONSTRUÇÕES

"A Capela de Nossa Senhora da Saúde


Capela de Nossa Senhora da Saúde - Construção Antiga

Não se sabe, com exatidão a época da construção da primeira capela dedicada a Nossa Senhora da Saúde. O mais provável é que tenha ocorrido antes de 1878, quando documentos já mencionados evidenciam a existência do povoado com o nome de Boa Saúde, que teria começado a crescer a partir da referida construção e da devoção a Nossa Senhora da Saúde, após a propagação da cura a ela atribuída.
Edificada por iniciativa de Luiz Francisco da Costa, conhecido como Luiz Cachoeira, contando com o apoio das famílias residentes na localidade e com a colaboração dos demais Cachoeira, a referida capela teve como pedreiro o senhor Antônio Badamero Sacca. Segundo os moradores mais antigos, a madeira utilizada na sua cobertura foi retirada das proximidades da construção, que era do tipo duas águas, com uma única porta larga na frente. A imagem de Nossa Senhora da Saúde, Luiz Cachoeira teria mandado buscar em Roma, enquanto o sino, teria sido uma doação de Pedro Francisco da Costa, denominado de Pedro Cachoeira, sendo desconhecida a sua origem, sabendo-se, entretanto, que foi trazido de Macaíba, em lombo de burro.
A primeira capela, muitos anos depois, foi reformada e ampliada, como mostra a sua foto. Tinha uma fachada em estilo colonial e o seu interior era constituído pela nave-central separada da capela-mor por uma grande arcada. Nas laterais existiam corredores separados da parte central por arcadas menores. Possuía um único altar, formado por vários degraus e três nichos com as imagens de Nossa Senhora da Saúde, ao centro, ladeada por São Sebastião e Nossa Senhora da Apresentação.

Cruzeiro e fachada original da casa comercial de Heronides Câmara e Mercado Antigo em dia de feira

Em frente à igreja, existia um cruzeiro de madeira com pedestal de alvenaria.
Cruzeiro. Fachada original da casa comercial de Heronides Câmara e mercado antigo em dia de feira
Quanto à assistência dada à capela de Boa Saúde por parte dos vigários da Paróquia de São José de Mibibu, no seu livro de tombo mais antigo, existente no arquivo da Cúria Arquidiocesana de Natal, encontramos algumas informações.
Datado de 29/06/1931, quando era pároco o Pe. Antônio Brilhante d’Alencar, encontramos o seguinte relato: “De 24 de junho a 28 do m m visitei as capelas de Monte Alegre, onde fiz uma novena em honra de S. João Batista e missa e reunião do Apostolado, Vera Cruz, Salgada e Boa Saude celebrei o santo sacrifício da missa e fiz desobriga paroquial e preguei em todas as trez capelas e distribui a sagrada comunhão a 215 pessoas sendo o maior nº em Boa Saúde e Monte Alegre.”
Quando o Pe. Antônio Brilhante faz referências ao trabalho da paróquia durante o ano de 1932, mais uma vez a capela de Boa Saúde é citada. “... visita paroquial com desobriga nas capelas de Monte Alegre, Boa Saude, Salgada, Vera Cruz, Laranjeira dos Cosmes e Japecanga todas com excelente resultado espiritual a excepção da última. S. José 31 de Dezembro de 1932. Pe. Brilhante”.
Datada de 30/04/1933, encontramos uma referência a Festa de 02 de Fevereiro: “Nos meses de Janeiro, Fevo, Março e Abril foram celebradas as 1as 6as feiras com regular solenidade e visita as capelas de Monte Alegre, Vera Cruz, Salgada e Boa Saúde e nesta ultima um triduo solene – festa da padroeira”.
Outra anotação do ano de 1933 é sobre o patrimônio da capela de Nossa Senhora da Saúde: “Há em Boa Saúde pequeno patrimonio de Nossa Senhora da Boa Saúde, constituido em gados, constante de trez vacas, um boiato de quatro heras, um novilhote, uma novilha e dois bezerros a s-s, em poder do Sr. José Cachoeira, morador no sitio Limeira deste município de São José de Mipibu, conforme carta do Sr. José Heronides da Câmara e Silva, com data de vinte e um de outubro de mil novecentos e trinta e um.”
Em 1934, no período de 15 de fevereiro a 03 de março, Frei José Maria Casanova, missionário da Ordem Carmelita, realizou Missões na Paróquia de São José de Mipibu. Além da sede da paróquia, foram visitadas as capelas, inclusive a de Boa Saúde, onde, conforme o relato do Pe. Paulo Herôncio, vigário na época, foram realizadas 432 comunhões, 15 batizados, 19 casamentos, 07 pregações, 01 procissão e 01 romaria ao cemitério.
Outra informação encontrada, de forma muito resumida sobre a festa de 02 de fevereiro de 1935, e que faz referência a uma reforma realizada na capela, na íntegra, é a seguinte: “Fez-se em Boa Saúde a festa da Padroeira, inaugurando-se os trabalhos de remodelação da capela”.
Outra reforma aconteceu na referida capela, quando era vigário de São José de Mipibu o Pe. Antônio Barros. A capela-mor passou por uma total transformação. O altar antigo foi substituído por um outro de arquitetura mais moderna, os corredores e arcadas laterais foram demolidos e foi construída uma sacristia.
Na primeira metade da década de l960, a igreja antiga foi quase toda demolida, restando apenas o alicerce e algumas paredes da capela-mor. No local surgiu a igreja atual, projetada e construída por Pe. Antônio Vilela Dantas, primeiro vigário da paróquia de Serra Caiada, criada em l956, à qual a capela de Boa Saúde passou a pertencer. Toda comunidade católica se empenhou e contribuiu para a construção da nova capela, tendo como fonte de renda as festas da padroeira. O principal encarregado da construção foi o senhor Sebastião Cleodom de Medeiros, comerciante e uma das lideranças da comunidade na época. A torre da referida capela teve sua construção mais recente, quando a Paróquia de Serra Caiada tinha como Vigário o Pe. José Amorim de Souza
Nas décadas de 1930 e 1940, a principal zeladora da capela de Nossa Senhora da Saúde era a Senhora Ana Ferreira Ribeiro, esposa do Senhor José Calazans e mais conhecida como Donana. Depois, a referida capela ficou sob os cuidados e a dedicação da Senhorita Helena Costa, durante muitos anos, período em que o seu irmão Augusto José da Costa, mais conhecido como Gustavo, era quem tocava o sino.

O Primeiro Cemitério

A época da construção do primeiro cemitério de Boa Saúde é desconhecida. Sabe-se que tinha como local a margem esquerda do rio Trairi, próximo ao final da Rua de Baixo, atual Heronides Câmara.
Em 1924, segundo os moradores mais antigos da cidade, ocorreu um inverno muito rigoroso e uma das enchentes alargou o leito do rio, devastou plantações e destruiu o cemitério. Depois dessa lamentável tragédia, temendo que uma outra viesse a acontecer, foi construído um novo cemitério, localizado no alto de uma colina, a uma distância de dois quilômetros da cidade. Somente depois do conhecimento dessa ocorrência é que podemos compreender a razão de uma construção tão distante.
Em l999, o cemitério de Boa Saúde foi reformado pelo poder municipal, sendo ampliada a sua área, construída uma capela, vias de acesso e sanitários.

A Construção da Primeira Escola

As primeiras professoras nomeadas de Boa Saúde de que se tem notícias, datam de 11/07/1886. Através da Lei nº 98l, da Prefeitura Municipal de São José de Mipibu, o povoado foi contemplado com duas professoras, sendo “uma para o sexo feminino e outra mista” (Barbalho, 1961, p. 141). Naquela época, era comum as escolas funcionarem nas próprias residências dos fazendeiros ou lideranças políticas.

Prédio antigo do Grupo Escolar Dr. Mário Câmara


A construção da primeira escola, da qual se tem conhecimento, somente veio a acontecer na primeira metade da década de 1930, tendo sido construída no local onde era a residência do senhor Badamero e, atualmente, existe a agência dos Correios. Sua inauguração ocorreu no dia 02 de fevereiro de 1935,conforme noticiou o jornal “A República”, datado do dia 10, do mesmo mês e ano, tendo como titulo “Inauguração do prédio da Escola Isolada de Boa Saúde”, cujo conteúdo passamos a transcrever na íntegra:
“ No dia 02 do corrente mês, comemorando a festa de sua padroeira – Nossa Senhora da Boa Saúde – na pitoresca povoação desse nome, no município de São José de Mipibu, teve lugar, às 11 horas, a inauguração do seu prédio escolar, alli mandado construir pelo Governo do Estado.
O acto de inauguração revestiu-se de aspecto festivo, a elle comparecendo, além do Dr. Amphiloquio Câmara, Diretor Geral do departamento de Educação, que alli também fora como representante do Exmo. Sr. Interventor Federal. Dr. Mário Câmara, o prefeito do município, Sr. Juvenal Carvalho, o vigário de São José. padre Paulo Heroncio de Melo, a inspetora de ensino professora Lindalva Alves Taveira, professora Antonia Guerra Jales, o Sr. José Humberto de Souto, Sr. Anibal Barbalho, o Sr. Heronides da Câmara Silva, que por parte do Departamento de Educação foi o encarregado da construção, e uma avultada assistência constituída de familiares e cavalheiros, dentre os quais recordamos dos Srs. Teodosio Ribeiro de Paiva, Francisco Gurgel, João Dantas, Joaquim Pinheiro Netto, João Batista Marques, Lauro Macedo, Francisco Leite, José de Souza, Pacífico Bernardo Bezerra, Manoel Cypriano Filho, João Alves Peixoto, Geraldo Cabral, João Teixeira de Vasconselos, Faustino Ferreira de França, Severino Guerra, Francisco Antônio de Jesus, Oscar de Freitas Marques, Belísio Cypriano do Nascimento, Antônio Francisco da Silva, Joaquim José Cabral, Júlio Gomes, Pedro Marcelino Filho e Francisco Resende.
A solenidade começou pela benção dada ao prédio pelo Padre Paulo Heroncio, a qual seguiu-se o hasteamento da bandeira nacional, queimando-se nesta ocasião uma salva de 21 tiros.
Repleta a sala da sessão, falou o Diretor do Departamento de educação, dr. Amphilóquio Câmara, que depois de ter apresentado ao público as escusas de comparecimento do Sr. Interventor Federal, discorreu sobre o desenvolvimento que a instrução pública está tendo no Estado, do litoral ao sertão, sob a orientação patriótica de sua excellência, e perorou congratulando-se com os habitantes de Boa Saúde pelo excelente prédio que recebia da administração estadual para a educação de seus filhos, o qual, em parte se devia a operosidade do sr. José Heronides Câmara que desinteressadamente aceitara do Departamento de Educação a incubência de dirigir a construção.
Em nome da população local, agradeceu o Sr. Heronides Câmara a dadiva da Interventoria Federal, espaltando, em palavras judiciosas, a obra elevadíssima de renovação moral, política e econômica que o dr. Mário Câmara está praticando no Estado.
- Durante toda a festividade tocou a harmoniosa banda de música de São José de Mipibu.
- Ao sr. Interventor Federal, que não poude, entretanto, comparecer em pessoa, por múltiplos affazeres nesta capital, estava preparada imponente recepção popular, como demonstração maior do reconhecimento do povo de Boa Saúde pelo benefício com que vinha de ser dotado.
- O sr. Heronides Câmara e distinta família foram enexcedíveis em cumular de gentilesas quando alli estiveram, oferecendo-lhe lauto almoço”.
Numa homenagem ao Interventor Mário Leopoldo Pereira da Câmara, que governou o Rio Grande do Norte no período de 02/08/1933 a 27/10/1935, a Escola Isolada de Boa Saúde passou a se chamar de Grupo Escolar Dr. Mário Câmara. Durante várias décadas o referido prédio, além de cumprir a sua função específica, serviu para a realização de reuniões e festas da comunidade, inclusive dos bailes das festas da padroeira. Foi demolido e no local construído o prédio onde, atualmente, funciona a agência dos Correios. O atual Grupo Escolar Dr. Mário Câmara fica localizado na Avenida Manoel Joaquim de Souza. Sua construção ocorreu quando era Governador do Estado o Monsenhor Walfredo Dantas Gurgel e a sua inauguração foi no ano de 1968.
Segundo pesquisa realizada junto aos moradores mais antigos, em 1933 o povoado de Boa Saúde tinha como Professora Maria Emília Pessoa. Depois da construção da escola, em 1935, a primeira professora foi Iolanda Medeiros, seguida de Maria da Conceição Costa e de Adelaide Maciel, todas formadas pela Escola Normal de Natal.
Outras professoras que lecionaram no Grupo Escolar Dr. Mário Câmara e cujos nomes foram lembrados são as seguintes: Nair, Aliete de Medeiros Paiva, Maria Celsa de Medeiros Paiva, Maria Almeida Galvão, Luíza Almeida Galvão, Maria Medeiros, Anita Barbalho, Albertina Barbalho, Carmelita Elias de Souza, Casciana Duarte, Terezinha Pinheiro de Lima, Aline Silva, Maria do Céu de Souza, Josefa Leó dos Santos, Nidarte Medeiros, Célia Barbosa e Francisca Ferreira Freire. Exerceram a função de diretora do referido estabelecimento de ensino, as seguintes professoras: Maria Helena de Azevedo e Silva e Maria Almeida Galvão.

A Feira e a Construção do Primeiro Mercado

No início do povoado, as famílias ali residentes e na vizinhança se reuniam, sempre aos domingos, debaixo de uma quixabeira, com o objetivo de venderem, comprarem e, até mesmo, trocarem mercadorias e produtos agrícolas. Assim nascia a feira de Boa Saúde, que anos depois passou a ser realizada debaixo de uma espécie de galpão coberto com palha.

Mercado Antigo


Na primeira metade da década de 1930, foi construído o primeiro mercado. Sobre a sua inauguração, o jornal "A República", datado de 08 de outubro de 1935, traz reportagem na primeira página, com o título "Inauguração do prédio do Mercado Público de Boa Saúde", cujo conteúdo passamos a transcrever:
"A fim de inaugurar o prédio do mercado público de Boa Saúde, excursionou o Sr. Interventor Mário Câmara até aquela povoação, Domingo passado (06/10) em companhia do deputado Café Filho, drs. Lélio Câmara e José Marinho, sr. Laurindo Leão e Dr. Israel Nazareno.
Verificou-se a partida pela manhã, chegando a Boa Saúde às 10 horas.
Ao aproximar-se o carro do chefe do Governo, foram queimadas girândolas de foguetes, sendo S.Exa. muito aclamado.
Hospedou-se a comitiva na casa do Sr. Heronides Câmara, prestigiosa influência política e acreditado comerciante e proprietário local. Ali se encontravam entre outros, os Srs. Anisio Vidal, secretário da prefeitura de São José, representando o prefeito Juvenal de Carvalho, Manoel Joaquim de Souza, Severino Dias, João Batista Nunes, Faustino Ferreira, Francisco Antônio, Juvenal Câmara, Severino Leite, Adauto Câmara, Lauro Bigois, Mário Paiva e João Batista Marques, elementos de representação social em Boa Saúde e São José. Senhoras Alice e Georgina Câmara, Senhorinhas Marcília e Nininha Petrovich, Lenira e Olga Bigois, Doninha de Carvalho, Lúcia Moreira Dias, Nair Câmara, Maria de Lourdes Reis , Rachel Matoso e outras.
Após um lauto almoço, fidalgamente servido por senhores e senhoras da localidade e desta capital, dirigiram-se todos para o novo prédio que se ia inaugurar. O sr. Heronides Câmara saudou, então, o sr. Interventor federal, dizendo da satisfação de que se achavam possuídos os habitantes daquele lugar, por mais esse melhoramento experimentado graças a S.Exa., que já dotara a povoação de um prédio para a Escola Isolada e outro para a Sub-delegacia de Polícia. Terminou afirmando que todos ali estavam reconhecidos a S.Exa.e firmes para prestigiar o seu governo.
Respondeu o dr. Mário Câmara, dizendo que o povo trabalhador, honrado e ordeiro de Boa Saúde bem merecia os benefícios que lhes tem prestado. Sentia-se bem em ver que ali se vinha realizando um dos pontos essenciais de sua administração, porque não apenas as sedes dos municípios precisam ser cuidadas, senão também as povoações. Se todos pagam impostos, todos têm direito de pedir, de exigir mesmo que lhes amenize as condições de vida, e esse apelo deve ser correspondido. Louvada a atuação do sr. Heronides Câmara, que muito tem feito por Boa Saúde. Que o povo continuasse a trabalhar pelo progresso da futurosa localidade. Terminando, foi S. Exa. Muito aplaudido pela multidão que enchia o prédio.
Em seguida, fez o dr. Mário Câmara e comitiva uma visita aos demais prédios mandados construir pela Interventoria atual, recebendo o chefe do Estado constantes demonstrações de apreço e simpatia de pessoas do povo.
Após alguma demora, fizemos à tarde, de volta os excursionistas, sendo, por ocasião da partida, entusiasticamente vivados pela massa popular o sr. Interventor Mário Câmara e o Deputado Café Filho."
O ato inaugural do mercado público de Boa Saúde, além do Interventor Mário Leopoldo Pereira da Câmara, contou com a presença de várias lideranças políticas, dentre elas o Deputado João Café Filho, único norte-rio-grandense a ocupar a Presidência da República, em 1954, após a morte do Presidente Getúlio Vargas.
O primeiro mercado de Boa Saúde localizava-se na esquina da Rua Tenente Adauto Rodrigues da Cunha com a Rua de Baixo (atual Heronides Câmara). Foi demolido e hoje, no local, existe um parque infantil. Em 1979, foi construído um novo mercado situado, entre a Rua Dr. Mário Câmara e a Avenida Manoel Joaquim de Souza. Numa homenagem ao Senhor Otto Hackradt, um dos mais antigos comerciantes e proprietário de uma unidade de beneficiamento de algodão em Boa Saúde na década de 1930, foi denominado de Mercado Municipal Otto Hackradt.
A feira de Boa Saúde era realizada nas imediações do mercado antigo. Os produtos agrícolas e de origem animal comercializados provinham dos sítios e fazendas da redondeza, enquanto os produtos industrializados vinham das cidades de São José de Campestre e Santo Antônio. Vendia-se de tudo (do mangaio ao tecido) e era bastante concorrida. Passou por um período de decadência a partir de l964, quando o inverno deixou as estradas em péssimas condições de tráfego e os principais feirantes se ausentaram. Outros fatores que contribuíram para a redução da feira foram: o deslocamento da população do município para as feiras de outras localidades, o aumento do número de mercearias nos sítios e a redução da produção dos pequenos agricultores.
Com a construção do novo mercado, a feira de Boa Saúde foi transferida para as proximidades do mesmo, na Rua Dr. Mário Câmara. Sua revitalização ocorreu a partir de 1993, com o incentivo da administração municipal, através do transporte gratuito dos feirantes e suas mercadorias. Quanto à origem dos produtos comercializados, a quase totalidade vem de fora do município.

Residência eestabelecimento comercialque pertenceram ao Senhor Heronides Câmara


A principal liderança que estava à frente das mudanças e da prosperidade que Boa Saúde alcançava, na primeira metade da década de 1930, era o Senhor José Heronides da Câmara e Silva, comerciante e proprietário rural.
Era membro de uma das famílias mais influentes do Estado, naquela época, a qual pertencia o Interventor Mário Leopoldo Pereira da Câmara. Nascido em 21/04/1888, era filho de Joaquim Maximiliano da Câmara e Silva e Joaquina da Câmara e Silva, que residiram em Boa Saúde, onde faleceu a Senhora Joaquina em 1933, cujo túmulo se encontra no cemitério local.
O Senhor Heronides Câmara, como era mais conhecido, residia em Boa Saúde em 1935, quando ocorreu, no Estado, a Intentona Comunista. Naquele ano, existia, no Brasil, um clima de conspiração por parte dos não aliados ao Presidente Getúlio Vargas e uma grande insatisfação nos quartéis, além da articulação do Partido Comunista para a ocorrência de levantes militares em nível nacional.
No Rio Grande do Norte, a situação da política local teve muito a ver com a ocorrência da Intentona Comunista, movimento que eclodiu com a rebelião do 21º. Batalhão de Caçadores de Natal.
Em relação à situação local, sucedendo o Interventor Mário Leopoldo Pereira da Câmara, assumiu o Interventor Rafael Fernandes, fazendo um governo essencialmente partidário e que, logo no início, extinguiu a guarda civil, entidade que havia sido criada por João Café Filho, na administração anterior. Cerca de 300 homens foram demitidos e alguns tomaram parte no levante comunista que, no período de 23 a 27 de novembro de l935, além de Natal, atingiu, também, diversos pontos do interior do Estado. Os principais participantes eram pessoas revoltadas, cabos, sargentos, funcionários públicos, operários, cuja maioria, na opinião de alguns autores, nada sabiam sobre comunismo. "Nem mesmo os dirigentes do movimento, os poucos declaradamente comunistas, tinham uma formação marxista. Eram revoltados simplesmente. O elemento de mais popularidade, o sargento Quintino, da banda de música do Regimento, não era letrado. Acreditava apenas que o comunismo solucionaria os problemas brasileiros. O grosso dos adesistas julgava tratar-se de um movimento para repor o interventor Mário Câmara" ( Silva, 1935, p. 280).
Seguiu-se a Intentona Comunista, uma violenta repressão e muitas injustiças, com o indiciamento e prisão de muitas pessoas inocentes, algumas ficando quase dois anos presas sem serem ouvidas em inquérito. Segundo João Maria Furtado: "a derrota foi reprimida a ferro e a fogo. Foi cometida aqui toda sorte de injustiças, atrocidades e até fuzilamento" (Furtaddo, 1976, p. 146).
O Senhor José Heronides da Câmara e Silva foi preso juntamente com o seu irmão Senhor Adauto Câmara, pelo que se sabe, não por terem aderido ao movimento, mas por perseguição política. O motivo alegado para as suas prisões foi o fato de terem oferecido acolhida para um grupo de pessoas que, tendo participado do movimento, e derrotadas em um combate ocorrido na localidade de Panelas (atualmente Bom Jesus), passaram por Boa Saúde e pediram ajuda.
O Senhor Heronides Câmara sofreu prisão domiciliar em Natal, enquanto Adauto Câmara foi preso na Ilha das Cobras, no Rio de Janeiro. Depois deste acontecimento, Heronides Câmara passou a residir em Natal, onde faleceu em 29 de setembro de 1939.

Outra pessoa de grande prestígio em Boa Saúde, na década de 1930, era o Senhor Manoel Joaquim de Souza, conhecido como Neco de Sinhá. Nascido na localidade de Serrinha dos Brandão, no Município de Currais Novos, ainda jovem veio para o Município de Santo Antônio onde casou-se com Antônia Augusta de Souza e fixou residência na Fazenda Bom Pasto, sendo proprietário, também, em Boa Saúde, onde possuía imóveis

Neco de Sinhá

e se fazia presente com frequência.
A descendência do Senhor Manoel Joaquim de Souza (Neco de Sinhá), conhecida como a Família Souza, exerceu, e ainda hoje exerce, uma grande influência na vida político-administrativa dos municípios de Boa Saúde e de Serrinha.

Residência que pertenceu a Neco de Sinhá e Nezinho de Souza

Em Boa Saúde, os seus filhos: Antônio Augusto de Souza liderou o movimento que resultou na criação do município e exerceu o cargo de vereador; Manoel Teixeira de Souza (Nezinho) foi verea- dor em São José do Mipibu e prefeito em Boa Saúde durante dois mandatos. Os seus netos: Paulo de Souza foi vereador, exerce o cargo de prefeito, sendo reeleito em 01/10/2000 para um quarto mandato; José Aldí de Souza, Manoel Joaquim de Souza Neto e Emanoel de Souza exerceram o cargo de vereador, e Aurí Lúcio de Souza exerce a função pela segunda vez. Já os seus bisnetos: Francisco Artur de Souza, atual Presidente da Câmara Municipal, exerce o cargo de vereador pela segunda vez e foi eleito vice-prefeito; Josué de Souza foi eleito vereador, também nas últimas eleições.
No Município de Serrinha: José Teixeira de Souza, filho de Neco de Sinhá, exerceu o cargo de prefeito por duas vezes. Seus netos: José Teixeira de Souza Júnior, é o atual prefeito e foi reeleito para o próximo mandato; Gilson de Souza foi vice-prefeito e Manoel de Souza foi vereador durante três legislaturas. Enquanto seus bisnetos: Genilson de Souza foi vereador, prefeito e, nas eleições de 01/10/2000, foi eleito vice-prefeito; Reginaldo José Bezerra de Souza foi reeleito vereador pela terceira vez.

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