EXPLOSÃO NA FESTA DA PADROEIRA DE BOA SAÚDE
O Jornal Tribuna do Norte deste domingo, 21 de fevereiro de 2010, publicou matéria sobre as vítimas da explosão,com fogos de artifício no encerramento da Festa da Padroeira de Boa Saúde e sobre o inquérito policial que apura o acidente. A seguir, a matéria na íntegra:
"Vítima luta para sobreviver no HWG
Tribuna do Norte - 21 de Fevereiro de 2010
Roberta Trindade - Reporter
No quarto amplo, pintado com cores claras, a porta entreaberta e a luz acesa. De longe é possível avistar uma mulher deitada em um dos leitos. Patrícia da Rocha Costa, 34 é uma das vítimas do acidente com fogos de artifício ocorrido em Boa Saúde, na terça-feira (2). Há 18 dias, a mulher está internada na enfermaria de número três, no leito 145 do Hospital Walfredo Gurgel. Parte do rosto de Patrícia está com curativo e 90% do corpo enfaixado devido à queimadura que sofreu durante o acidente. No braço direito, o soro é trocado todas as vezes que o tubo está próximo de chegar ao fim.Patrícia não tem ideia de quando vai receber alta, mas sabe que ainda terá que passar por várias cirurgias de enxerto. Todos os dias é feito um novo curativo nos ferimentos e para isso, Patrícia tem que ser anestesiada, caso contrário, não aguentaria a dor insuportável. Entre as dificuldades, o momento do banho também é um terror para a dona-de-casa. “É difícil demais. Não consigo sequer dizer o que estou sentindo”. Os segundos, minutos, horas e dias vão passando lentamente, mas parecem intermináveis longe da casa onde Patrícia mora com o marido e a filha de 13 anos, em Maretas, município de Serrinha.Se a saúde não está boa, a mente também não anda nada bem. Patrícia presenciou há dez dias, a morte de Maria das Dores de Oliveira do Nascimento, 45. Maria também teve 90% do corpo queimado durante a festa da padroeira de Nossa Senhora da Boa Saúde e faleceu devido à gravidade dos ferimentos. “Ela estava na cama do meu lado. Uma noite começou a passar mal. Gemia e pedia para eu ajudá-la. Foi a noite inteira assim”, lembra Patrícia.A paciente se recorda que uma enfermeira ficou durante toda a madrugada ao lado de Maria. “Nem assim teve jeito. De manhãzinha ela parou de gemer e tombou a cabeça para o lado. Estava morta”.Depois da morte de Maria das Dores, a saúde de Patrícia piorou. Ela, que já sentava na cama e andava pelos corredores do hospital regrediu e agora permanece deitada, levemente inclinada. Não consegue mais andar. Diante da situação, Patrícia tem sido assistida por uma psicóloga. “Não tenho medo de estar no mesmo quarto em que Maria faleceu, mas não esqueço do momento de vê-la morrendo”.A dona-de-casa não lembra como sofreu o acidente, diz que se recorda apenas que soltavam os fogos. “Olhei para cima e pensei que aqueles fogos eram perigosos. Depois disso, acordei no hospital”.É na unidade hospitalar que Patrícia deve permanecer ainda um longo período. No corpo da vítima há pigmentos de pólvoras que restaram dos fogos de artifício. “Me disseram que eu fiquei só de calcinha porque minha roupa toda queimou e que corria pelas ruas pedindo socorro. Não lembro de nada disso”.
Sonhos de uma mulher que teve a vida paralisada
Mesmo com o corpo todo enfaixado, Patrícia acredita que, muito em breve, poderá voltar para casa. A dona-de-casa tem alguns sonhos que pretende realizar, assim que puder estar ao lado da família. “Quero fazer um jantar especial com carne assada e macaxeira. Dá água na boca”.Mas, este não é o principal desejo da paciente. “Quero poder varrer meu terreiro, tomar banho sozinha, matar a saudade do meu pai, do meu marido e da minha filha”.E tem mais: “Também quero ir nas casas das minhas amigas para “jogar conversa fora” e assistir televisão. Aqui no hospital tem TV, mas não pega muito bem”.Se, para a maioria da população andar pode parecer um ato normal do ser humano para Patrícia caminhar representa muito. “Imagine, quando eu puder caminhar novamente pelas ruas do lugar onde moro. Sentir o vento batendo em meu rosto. A sensação será maravilhosa. Não vejo a hora deste dia chegar”.
Menino acidentado ainda precisa passar por cirurgia
Igor Rodrigues tem apenas 10 anos, porém, já passou por uma experiência nada satisfatória. Ele, também foi vítima do acidente com fogos de artifício. Para passar o tempo no hospital brinca na brinquedoteca. Tímido, Igor fala pouco. Diz que não está sentindo dores nos braços e pernas (onde foram as queimaduras) e que deseja voltar logo para casa. “Quero ir embora”, sorri discretamente.O garotinho ainda terá que passar por uma cirurgia, no pé, nos próximos dias. Infelizmente, este não é o único problema que Igor terá pela frente. A avó do menino é Maria das Dores que também estava internada no hospital e que faleceu. “Ele não sabe que a avó morreu. O médico disse que não é prudente falar agora. Pode ser pior”, afirma Francisco Rodrigues da Silva, 47 avô de Igor.De acordo com Francisco, o garoto será criado por ele. “Eu vou cuidar do meu neto. Dar estudo e, principalmente, mostrar o que é certo e errado, nesta vida”.O mecânico recebe por semana R$ 100 e garante que mesmo com pouco dinheiro e sem a ajuda da avó e da mãe do menino vai poder sustentar o garoto. “Ele não quer voltar para a mãe. Eu tenho braços e pernas para lutar”.Sobre os dias que estão passando no hospital, Francisco explica que não tem o que reclamar. “Somos bem atendidos aqui. Não nos falta nada”.
Investigação
O delegado Petrus Antonnios, titular da Delegacia Regional de São Paulo do Potengi e que preside o inquérito policial onde se apura a causa do acidente afirma que na próxima quarta-feira irá colher o depoimento de oito testemunhas e que já foram ouvidas 12 pessoas de um total de 30. O delegado ainda aguarda o resultado do laudo do Instituto Técnico-Científico de Polícia (Itep) para juntar aos autos e adiantar as investigações. Petrus explica que não ouviu os representantes da empresa I. M. Pinheiro (empresa responsável pela queima de fogos). “Ainda estou ouvindo testemunhas e vítimas”".
segunda-feira, fevereiro 22, 2010
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