No passado, as parteiras curiosas assumiram um papel muito importante na vida das comunidades do interior, principalmente no Nordeste do Brasil.
As parteiras curiosas, também chamadas de comadres, assistiam às mulheres grávidas por ocasião dos partos, que eram realizados em casa, acompanhados de muito mistério e medo. As proteções de Nossa Senhora do Bom Parto e de Nossa Senhora da Saúde eram invocadas, acompanhadas de orações, simpatias e procedimentos próprios e característicos da ocasião e da época. Acreditava-se que esfregar alho ou cuspe de fumo no abdome, soprar numa garrafa, sentar num pilão ou numa cuia de cinco litros, facilitavam a saída do feto. Quando não ocorria a expulsão da placenta , dizia-se que a paciente não tinha se “desocupado” e, a infecção decorrente desse fato quase sempre causava a morte. Daí a expressão “morreu de parto”. Era comum, após o parto, a mulher ficar de “resguardo” durante 40 dias. Neste período, só podia tomar banho depois de l5 dias e qualquer susto, raiva, queda, ou fato semelhante, era causa para “quebrar o resguardo”. Para evitar hemorragia, no umbigo do recém-nascido colocava-se um pouco de teia de aranha e para ajudar a sarar usava-se azeite de carrapateira.
Festejava-se os nascimentos das crianças com foguetões e às visitas era oferecida uma mistura de cachaça com mel de abelha, chamada de “mijo do menino” ou da menina, conforme o caso, e ainda, de “cachimbo”, denominação que certamente tem a haver com o cachimbo das curiosas, pois, geralmente, tinham o hábito de fumar.
As curiosas passavam a ser consideradas comadres das parturientes e os recém-nascidos, quando crescidos, as chamavam de mãe fulana ou cicrana, conforme os seus nomes. Em Boa Saúde, há uns quarenta anos atrás, a maioria dos partos eram assistidos por parteiras curiosas, algumas delas ainda hoje lembradas, como: Maria Cabocla, conhecida como Mãe Maria; Francisca Justino ou Mãe Chiquinha, que trabalhava como louceira e Joaquina Preta, chamada de Mãe Joaquina, que também era rezadeira.
As Rezadeiras e Suas Curas
As rezadeiras, em algumas regiões do país, também são conhecidas como curandeiras ou benzedeiras. No passado, entre os séculos XVI e XVII, consideradas como feiticeiras, eram perseguidas, punidas e até condenadas pelos Tribunais da Inquisição da Igreja Católica.
As curas ou rezas são práticas pouco utilizadas nos dias atuais e que aos poucos vão desaparecendo. As rezadeiras curavam de mau-olhado, estado doentio causado pelo poder dos olhos em fazer o mal e cujas vítimas mais freqüentes eram as crianças. Curavam, também de espinhela caída, dor de dente, dor de cabeça, dor de ouvido, nervo triado (torção) e mordida de cobra. Algumas rezas destinavam-se a curar bicheiras de animais, acabar com lagartas nos roçados, além de outros fins.
As principais rezadeiras de Boa Saúde, no passado, foram: Josefa Cipriano ou Zefa Miau, apelido do qual não gostava e Joaquina Preta, seguidas de Maria Benedita Soares, conhecida como Tutu, que ainda hoje atende às pessoas que procuram as suas rezas.
Geralmente, as parteiras curiosas também assumiam a função de rezadeiras. Usava-se nas benzeduras ramos de pinhão roxo, manjericão, vassourinha e arruda, fazendo movimentos, em forma de cruz, sobre a parte do corpo doente. Quanto mais murchos ficavam os ramos, maior era o olhado, nos casos desse mal.
As Plantas Medicinais
No passado, as plantas medicinais eram muito mais usadas como remédios, sob a forma de infusão, chás, sumos, lambedores ou xaropes, banhos, óleos e emplastros. De acordo com o tipo de planta e dependendo da doença, usavam-se flores, folhas, sementes, cascas e raízes. Algumas plantas eram usadas como abortivo.
Principais plantas medicinais que eram, e ainda hoje são, usadas na região e em Boa Saúde:
- Abacate, indicado para doenças dos rins.
- Arruda usada, principalmente nos casos de dores de ouvido, de dente e doenças da pele, como sarna. Acreditava-se no seu poder de “espantar o mau olhado”.
- Batata-de-purga, indicada como depurativa do sangue.
- Cabacinha, usada para combater a sinusite e, também, como abortivo.
- Cidreira, indicada para as doenças do estômago e como calmante.
- Erva-doce, usada como tranquilizante e para os casos de desinteria.
- Eucalípto, usado no combate à febre e bronquites.
- Fedegoso, indicado para gripes.
- Jurubeba, combate os males do fígado, sendo usada, também, como depurativo.
- Mastruço, antiinflamatório e muito recomendado como expectorante.
- Quebra-pedras, diurético indicado nos casos de cálculos renais.
- Velame, usado para curar gripes, cólicas e diarréias.
Os Remédios Populares
Além do uso das plantas medicinais e das benzedeiras, no passado, existiam muitos procedimentos baseados na sabedoria popular, voltados para a cura de certas doenças, como: beber banha de tijuaçu ou de cágado para inflamação da garganta; lavar os olhos com urina nos casos de doença de olhos ou conjuntivite; colocar algodão queimado para estancar sangria pelo nariz, dentre outros.
Estes costumes, crendices e tradições, ao longo do tempo, foram transmitidos de geração para geração e, ainda hoje, fazem parte da nossa cultura. “Muitos dos predicados de nossa medicina popular foram legados pelos indígenas que antecederam os civilizados na posse da terra. No litoral do Rio Grande do Norte, os janduis. No interior, raça dos cariris,...conhecedores da flora medicinal, sabiam o segredo das plantas, raízes e folhas sob a forma de chás, infusões, defumadores e cocções, aplicados num ritual que favorecia a cura” ( Araújo, 1999, p. 13).
Ainda, em relação à prática da medicina popular, no passado, Boa Saúde contou com a dedicação e o trabalho voluntário do Senhor Cirilo Carolino de Alencar, que sarjava tumores, furúnculos e panarício. Com êxito, ele atendia às pessoas além dos limites do povoado. Seu Cirilo era tropeiro, comercializava aguardente trazida no lombo de burro-mulo, do engenho do Coronel José Lúcio Ribeiro, no município de Goianinha, e abastecia Boa Saúde e a vizinhança.
O Uso da Homeopatia
Até o início da década de 1950, Boa Saúde não contava com nenhuma farmácia, como também com nenhum profissional de saúde residindo na área.
Nos casos das doenças mais comuns, as pessoas recorriam aos medicamentos homeopáticos sob a orientação do Senhor Lídio José da Costa, mais conhecido por Lídio Jorge. Conhecedor e acreditando no poder do uso dos remédios homeopáticos, ele, de posse de um manual de orientação, e através da leitura das bulas, receitava as pessoas, dependendo das doenças.
Seu Lídio Jorge era evangélico, exercendo a função de Pastor da Assembléia de Deus. Através da homeopatia, prestava um serviço à comunidade, pois não tinha a venda dos remédios homeopáticos como comércio, no sentido exato da palavra. Seu estabelecimento comercial era uma loja de tecidos, e durante algum tempo foi proprietário de um “misto” que transportava passageiros e cargas para Natal.
Primeiro Farmacêutico, Primeira Farmácia

Antes da chegada do Senhor Otacílio a Boa Saúde, os partos eram assistidos por parteiras curiosas. A partir de
Otacílio Barbosa da Silva
Foto do arquivo da família
então , com a sua experiência e dedicação, ele passou a realizar os partos, fazendo inclusive forceps, quando o caso exigia. Teve que lutar contra muitos tabus e preconceitos. Pelo fato de ser homem, muitas vezes era chamado quando há três , quatro dias, as parturientes estavam aos cuidados das curiosas e o parto não acontecia ou, ainda, quando não expeliam a placenta.
Para atender aos chamados nos sítios, quando não dispunha de transporte, percorria léguas a cavalo, de dia ou de noite, para atender uma parturiente.
Além de parteiro o Senhor Otacílio fazia pequenas cirurgias, engessava fraturas e realizava serviços ambulatoriais: aplicação de injeções e curativos. Fazia, também, as vezes de um veterináio, realizando partos de animais (vacas, éguas, porcas), quando, por algum tipo de complicação, precisavam de assistência. Determinadas doenças dos animais, como a “lingua de pau”, eram curadas com as suas fórmulas.
O Senhor Otacílio, como prático de farmácia, prestou um grande serviço à população de Boa Saúde, numa época em que não existia médico nos municípios do interior. Nada recebia pelo seu trabalho, quando o paciente não podia pagar, e, nestes casos, o atendimento, os remédios e os materiais dos curativos eram custeados pela prefeitura, em determinadas administrações.
Nascido no município de Goianinha, em 14 de junho de 1914, o Senhor Otacílio Barbosa da Silva faleceu no dia 07 de abril de 1995,em Natal.
Os Primeiros Atendimentos Médicos
Os primeiros atendimentos médico-odontológicos realizados em Boa Saúde iniciaram em 10/03/1971, através de um convênio firmado entre a Prefeitura e a UFRN/CRUTAC. A sede do Município recebia, uma vez por semana, a visita de um médico e um dentista para atendimento à população. Os casos de internamentos eram encaminhados, de acordo com a gravidade, para o Hospital Regional do CRUTAC, em Santo Antônio, ou para o Hospital Onofre Lopes em Natal.
Encerrado o convênio com a UFRN/CRUTAC, a prefeitura firmou convênio com o FUNRURAL, na administração da Prefeita Aliete de Medeiros Paiva (31/01/1973 a 31/01/1977), para atendimento médico-odontológico na sede do município.
No dia 03/01/1977 foi fundada a Associação de Proteção à Maternidade e a Infância de Januário Cicco, uma entidade civil, de direito privado, sem fins lucrativos e que rege-se pelos seus estatutos.
A Associação de Proteção à Maternidade e a Infância de Januário Cicco é a entidade mantenedora da Maternidade Eufrázia de Medeiros, através de convênios com a Secretaria de Saúde do Município, Secretaria de Saúde do Estado do Rio Grande do Norte e com o Sistema Único Descentralizado de Saúde – SUDS.
A primeira médica residente em Boa Saúde foi a Dra. Maria Janili Alves da Costa, no período de 1983 a 1987, sendo substituída pelo Dr. Augusto Rivero, que permaneceu como médico da Maternidade Eufrásia de Medeiros, do ano de 1988 ao de 1990.
Com a saída do Dr. Augusto Rivero, a partir de 1991, a Maternidade Eufrásia Medeiros ficou sob a responsabilidade do Dr. Welington Alves da Rocha, que permaneceu em Boa Saúde até 1995.
A partir de 1992, a referida maternidade passou a contar, também, com o atendimento médico da Dra. Osmarina Batista de Almeida, que continua até hoje.
O atendimento ambulatorial nos últimos três anos, segundo os dados fornecidos, apresentou os seguintes números:
Ano Total de atendimentos
1997 13.886
1998 4.190
1999 6.271
Os números relativos aos internamentos nas clínicas: médica, obstétrica e pediátrica, referentes ao mesmo período, são:
Ano Total de internamentos
1997 738
1998 624
1999 549
A Dra. Zélia Maria Barbalho foi a primeira dentista a residir em Boa Saúde, iniciando em 1981 e permanecendo até os dias atuais, com o atendimento odontológico, compreendendo: aplicação de fluor, restaurações e extrações dentárias, numa média de 2.800 pacientes, nos últimos anos".
Texto do Livro: BOA SAÚDE - Origem e História
Autores: José Alaí de Souza e Maria de Deus Souza de Araújo
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